O jornal Zero Hora publicou nesta quarta-feira, 13, artigo do presidente Eduardo Trindade sobre a abertura de escolas médicas.
Confira.
O ensino médico virou uma indústria
A forte mobilização da sociedade para discutir a telemedicina está faltando em outras lutas, como a que deveria haver sobre o controle das faculdades de Medicina.
No ano passado, o governo decretou uma moratória como forma de fechar a torneira que fez jorrarem cursos de Medicina desde o início da década. Havia, na época, 128 escolas médicas. Desde então, foi autorizado um total de 207 cursos, a maior parte deles mais preocupada com o lucro do que com a qualidade.
A qualidade no ensino médico decaiu e tende a diminuir se o governo realmente não interromper a abertura de novas faculdades. A moratória existe, mas na prática não está atingindo seus objetivos. Desde sua implantação, foram abertas 21 escolas, entre elas uma no Estado, alvo de uma ação civil pública impetrada pelo Cremers na Justiça Federal visando a sua suspensão.
É visível que, acima de qualquer coisa, não prevalece o aspecto social, porque, decididamente, não existe necessidade de formar mais médicos. Se a população tivesse consciência de que formar mais médicos não é solução para o mau atendimento de saúde, exigiria políticas públicas sérias e não novas escolas.
Outro indicativo de que a moratória não atinge seu objetivo é o fato de que, além da abertura de cursos, ocorre o aumento de vagas oferecidas em faculdades existentes. É o caso aqui no Estado: faculdades que nem mesmo contam com hospital-escola já anunciam a ampliação de vagas, sem qualquer reação do governo.
Falta, na verdade, um Relatório Flexner, que, no começo do século passado, depois de uma avaliação criteriosa, corajosa e técnica, sem influência política, contribuiu para extinguir quase a metade das faculdades de Medicina que existiam nos Estados Unidos.
Hoje, os EUA, com seus 325 milhões de habitantes, contam com 125 cursos de Medicina, enquanto o Brasil, com sua população de 209 milhões, tem 335.
Infelizmente, o ensino médico virou uma indústria. Se as entidades não agirem, pressionando o governo e cobrando medidas para que a qualidade seja o principal objetivo – não o lucro – cada vez mais teremos médicos sem o preparo adequado.