
Confira o artigo do vice-presidente do Cremers, Eduardo Neubarth Trindade, publicado no jornal Zero Hora desta quinta-feira (23):
Para ser médico, é preciso força. Não exatamente força física (talvez, na ortopedia), mas força mental, espiritual e moral. É essa força que nos permite, dia após dia, partilhar da dor de nossos pacientes, buscar seu alívio e lutar para que outras pessoas sofram menos. Mas essa força, como tudo, tem dois lados.
Sejamos sinceros: os médicos não estão atravessando uma boa fase no Brasil atualmente. São alijados do debate público, não são consultados na construção de políticas de saúde, veem sua profissão cada vez mais banalizada e mercantilizada. E, talvez, nossa força também tenha sido nossa fraqueza. Ao manter os olhos voltados para os pacientes, para a pesquisa e para a ciência, acabamos atropelados pelo roldão de interesses duvidosos.
Por isso, está na hora de usar nossa força para recuperar nosso lugar na sociedade, buscando o apoio da população nessa jornada. Temos que conscientizar nossos pacientes de que uma faculdade de Medicina em cada esquina não é garantia de atendimento melhor. Temos que apontar o custo não apenas monetário, mas social, da formação precária de um médico. Temos que recuperar nosso assento à mesa de debates que impactam a sociedade como um todo, pois é o médico quem o paciente quer ver quando busca socorro.
Se temos força para encarar a morte, carregar responsabilidades incomensuráveis e aliviar dores do corpo e da alma, temos força para recuperar a Medicina. Se temos força para abraçar uma vida de constantes estudos e aperfeiçoamento, temos capacidade para encontrar o remédio de que precisamos enquanto profissionais. E precisamos juntar nossa força com a da população. Afinal, ela é a razão de existirmos em nossa profissão.
Quando uma pessoa abre os olhos pela primeira vez, é o médico que ela vê. E quando os fecha pela última, também. Façamos com que esse lugar que nós, médicos, ocupamos, recupere sua relevância e mantenha sua dignidade com ética, responsabilidade e discernimento. Com a força que só os médicos são capazes de encontrar em si e nos outros.