
Multiplicam-se as notícias de paralisações de serviços de saúde em diversas regiões do Rio Grande do Sul. Hospitais filantrópicos ameaçam fechar portas, postos de saúde reduzem atendimentos, profissionais trabalham em condições indignas. O colapso da rede não é uma hipótese futura: é uma realidade presente, que afeta milhares de gaúchos.
O que preocupa é a resposta do poder público. Em vez de assumir a responsabilidade imediata pela gestão da saúde, o Estado anuncia planos para 2030. Uma promessa distante, quase uma ficção orçamentária, enquanto população e profissionais enfrentam o caos cotidiano.
Não há como naturalizar que médicos e equipes de saúde trabalhem sem insumos básicos, com salários atrasados e sobrecarga insustentável. O sofrimento da população é compartilhado pelos profissionais, que cuidam e também padecem diante da precariedade estrutural. Eles não são culpados: são vítimas, junto com a sociedade, de um sistema que colapsa pela omissão estatal.
Ainda pior é constatar que os médicos são totalmente alijados do processo decisório. São tratados como meros executores, e não como atores centrais de um sistema que só existe graças ao seu trabalho. Não são ouvidos nas discussões sobre financiamento, organização da rede ou políticas de médio e longo prazo. Ignorar a voz de quem está na linha de frente é repetir o erro de governar de costas para a realidade.
A saúde é direito constitucional e dever do Estado. Postergar soluções é condenar pacientes e profissionais à incerteza, ao improviso e ao sofrimento. É preciso resgatar a prioridade da saúde pública, assegurar financiamento adequado e garantir que hospitais e profissionais possam exercer sua missão sem o fantasma da insolvência.
A sociedade exige respostas imediatas. Não basta prometer recursos para 2030. O paciente não pode esperar até lá para ter acesso a leito, cirurgia ou atendimento digno. O médico não pode esperar até lá para ter condições mínimas de trabalho. A omissão hoje custará vidas amanhã.
Eduardo Neubarth Trindade
Vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers).