O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers) trouxe à tona questões preocupantes que assolam a capital gaúcha: o crescente número de dependentes químicos e a falta de estrutura para o tratamento adequado desses pacientes.
O presidente do Cremers, Eduardo Neubarth Trindade, foi enfático ao destacar a escassez de leitos nos hospitais psiquiátricos de Porto Alegre, um imbróglio que, segundo ele, é agravado por medidas que vêm, há anos, “demonizando” o sistema psiquiátrico no Brasil. “Essa política nefasta, que trata a psiquiatria como vilã, tem como consequência a falta de hospitais e de espaços adequados para o tratamento dos pacientes que mais precisam”, declarou.
Com o avanço do consumo de substâncias ilícitas e o aumento de pessoas em situação de vulnerabilidade, a demanda por atendimento especializado cresceu exponencialmente. No entanto, a ausência de investimentos na construção de novas unidades e a redução de leitos nos hospitais existentes colocam em xeque a capacidade da rede pública de saúde em oferecer tratamento efetivo.
Trindade também ressaltou que essa negligência não apenas compromete o tratamento dos dependentes químicos, mas também impacta profundamente toda a sociedade, que lida diariamente com as consequências da lacuna no atendimento.
A preocupação do Cremers se alinha a uma questão ainda mais polêmica – a Resolução 487/2023 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que propõe o fechamento gradual dos hospitais psiquiátricos no Brasil.
Segundo essa norma, a ideia é promover a substituição do modelo de internação por políticas de atenção aberta e de base comunitária, como os Centros de Atenção Psicossocial (Caps). No entanto, críticos, como Trindade, argumentam que essa medida pode agravar ainda mais a situação, deixando dependentes químicos e pessoas com transtornos mentais graves sem a devida assistência.
A posição do presidente do Cremers reflete uma crítica contundente às políticas públicas de saúde mental implementadas nos últimos anos, que, segundo ele, têm falhado em dar respostas à altura da gravidade da situação.
Texto: Samuel Morais
Edição: Sílvia Lago