O Brasil precisa de mais saúde, mas isso não quer dizer que o Brasil precise de “Mais Médicos”. Embora se preste a discursos populistas, tratar as soluções do atendimento aos brasileiros de modo meramente quantitativo já se mostrou ineficiente, pois não dá conta das complexidades de um país continental e repleto de desafios. A solução real passa pelo aperfeiçoamento da gestão pública, valorização profissional e melhoria das condições — ou seja, pela qualidade.
Faço questão de destacar que reconheço que contar com mais profissionais é sempre salutar. Contudo, apenas inchar os quadros de pessoal não garante uma saúde pública de qualidade, tampouco a manutenção dos padrões de referência alcançados até aqui. Quando criticamos programas como o Mais Médicos, não se trata de um discurso corporativo. Estamos, isso sim, defendendo a Medicina de fato, uma Medicina efetiva e resolutiva.
Quando criado, o Programa Mais Médicos foi uma ação do Governo Federal para conter índices de reprovação da opinião pública. Em março de 2013, três em cada quatro brasileiros não aprovavam as medidas de atendimento da rede pública de saúde (CNI/Ibope). O Programa passou e o problema persistiu –– restando claro que a questão não era a quantidade de profissionais. O problema sempre esteve na falta de estrutura para o exercício da medicina. Se os profissionais não têm condições para fazer o básico, de que adianta contratar mais profissionais?
Durante a pandemia, vimos que os médicos estiveram à frente dos atendimentos. Em momento algum faltou médicos no Rio Grande do Sul. A qualidade foi a resposta, não a quantidade –– embora ambas devam andar juntas. É essa valorização que estamos construindo à frente do Cremers –– aproximando médicos, diretores técnicos dos hospitais, diretores clínicos dos hospitais e faculdades de Medicina.
Não se trata aqui de ser contra profissionais de outros países –– desde que sejam devidamente referendados pelo Revalida. E desde que, antes de se pensar em aumentar quantidade, sejam incrementadas a qualidade e as condições para o trabalho médico. Gestão e qualificação de serviços aumentam as chances de sucesso. Isso é defender a medicina. Isso é cuidar das pessoas
Carlos Sparta, médico anestesista e presidente do Cremers
Artigo publicado na edição de quinta-feira, 16, no jornal Correio do Povo