Confira o artigo do presidente do Cremers, Carlos Sparta, divulgado no Jornal do Comércio desta sexta (02):
Medicina, ética e redes sociais
É inegável que as mídias sociais se tornaram o “lugar” por onde circula o debate público. Mais do que isso, as plataformas tornaram-se difusoras de informações, construtoras de reputação e espaço privilegiado de divulgação. Para muitos de nós, médicos, as redes são um canal de contato com a sociedade, capazes de garantir benefícios tanto para profissionais como para pacientes. No entanto, são muitos os riscos que o uso indiscriminado dessas ferramentas podem apresentar no cotidiano dos profissionais da medicina. Como bem disse o médico e físico suíço-alemão Paracelso, ainda no século XVI, a diferença entre o remédio e o veneno é, muitas vezes, a dose.
A resolução 1974/2011 do Conselho Federal de Medicina (CFM) nos dá boas bases para traçarmos os limites éticos da atuação de um médico nas redes. Ela foi complementada em 2015 com a resolução 2.126, que detalha alguns pontos da normativa. Apesar dos regramentos, contudo, existem muitas zonas cinzentas que merecem uma discussão mais atenta entre os profissionais e uma atuação mais proativa dos conselhos regionais. E aqui vamos muito além da mera (e obrigatória) fiscalização a serviço da defesa dos médicos e da medicina, que pode redundar em punições. Falamos especialmente de preparar, orientar e acompanhar os médicos para a realidade de um mundo hiper-conectado, no qual muitos pacientes se utilizam dessas plataformas em busca de informação.
Os médicos têm o dever de contribuir positivamente com o debate público. Esse é o espírito das normativas do CFM, que deixam claro que o papel dos profissionais nesses espaços é o de promotores da boa informação e da educação dos públicos. Contudo, são vedados o sensacionalismo, a autopromoção, a mera propaganda e a exposição de pacientes. É preciso manter uma postura ética, tendo como objetivo a divulgação de conteúdo cientificamente comprovado, válido, pertinente e de interesse público.
Em uma realidade na qual todos os aspectos da vida em sociedade são afetados pelas plataformas digitais, é impossível ignorar sua centralidade e a necessidade de que os médicos estejam nelas. Entretanto, nossa profissão se assenta em princípios deontológicos sólidos, que guiam nossa atuação em todas as situações – presenciais e on-line. Reforçar a conexão entre as redes e a ética médica é uma necessidade urgente e que deve mobilizar todos.
Carlos Sparta
Médico, presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul