Confira o artigo do presidente do Cremers, Carlos Sparta, publicado no Jornal Zero Hora desta terça-feira (25):
O futuro da Medicina
Em duas décadas, o número de médicos registrados a cada ano no Cremers quase quadruplicou: saltou de 730, em 2002, para 2.750, em 2022. O dado é um reflexo do crescimento dos cursos de Medicina no Estado. Atualmente, são 20 escolas ativas, nove delas abertas a partir de 2013 em instituições de ensino de fora de Porto Alegre. E a tendência é que o aumento seja ainda maior nos próximos anos.
No início do mês, encerrou a vigência de uma portaria do Ministério da Educação que suspendia a abertura de novas faculdades de Medicina. Com isso, as instituições já podem voltar a solicitar o credenciamento ao MEC. Segundo dados obtidos junto ao órgão, pelo menos 12 estariam na fila aqui no Rio Grande do Sul.
A abertura indiscriminada de novas escolas médicas assusta. Os dados nos mostram que já temos médicos suficientes para atender a todos. Não precisamos de MAIS instituições. Precisamos de BOAS instituições, que ofereçam uma estrutura mínima para uma formação de qualidade.
Defendemos a exigência de três critérios objetivos: a presença de hospital de ensino com mais de 100 leitos exclusivos; a oferta de cinco leitos públicos de internação hospitalar para cada aluno; e o acompanhamento de cada equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF) por no máximo três estudantes.
Um médico bem formado, além de melhor atender o paciente, representa menos custos para o SUS, pois pede menos exames, realiza menos internações e prescreve tratamentos de forma mais assertiva.
Não sabemos ainda como será avaliada a criação de novos cursos. O Governo já sinalizou que há interesse de colocar faculdades em cidades distantes dos grandes centros, onde faltam médicos. Mas já foi visto que essa estratégia não funciona.
Dados da Demografia Médica do CFM apontam que 43% dos médicos gaúchos estão concentrados em Porto Alegre. Eles migram para a capital, pois não há incentivos para que fiquem no interior.
O que precisamos é de um plano de carreira que permita aos médicos atender nos municípios menores com qualidade, remuneração adequada, acesso à estrutura e possibilidade de aperfeiçoamento profissional. Somente assim – e não com a abertura de mais e mais faculdades – será possível garantir o exercício da boa Medicina em todo o Rio Grande do Sul.
Carlos Sparta
Presidente do Cremers
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