No início deste mês, uma equipe de urologistas do Hospital de Clínicas de Passo Fundo (HCPF), no norte do estado, utilizou, pela primeira vez no interior do Rio Grande do Sul, a tecnologia Da Vinci X em uma cirurgia robótica para o tratamento de câncer de próstata. Após esta, já foram realizadas outras quatro operações com o robô.
Na visão do urologista Marcelo Pimentel, um dos médicos à frente do procedimento, a chegada da tecnologia ao interior consolida Passo Fundo como um importante polo de saúde não só do estado, mas do sul do Brasil. “A partir de agora, os pacientes podem contar aqui com uma tecnologia equivalente à presente nos hospitais mais importante do Brasil e do mundo, sem necessitar viajar grandes distâncias, ficando mais próximos de suas casas, do convívio de seus familiares e amigos”, afirma o médico.
Além do Hospital de Clínicas, outro estabelecimento também tem se destacado em cirurgia robótica na cidade – o Hospital São Vicente de Paulo (HSVP). Neste mês de março, o HSVP, em parceria com o Instituto de Ortopedia e Traumatologia, alcançou a marca de 110 cirurgias ortopédicas com o uso do robô CORI, ativo na instituição desde maio do ano passado.
Para o ortopedista André Kuhn, responsável pelo serviço no HSVP, a robótica no meio médico funciona como uma espécie de GPS. A analogia com a ferramenta, que guia até os motoristas de primeira viagem aos destinos mais remotos, é para afastar o receio que algumas pessoas têm da tecnologia ao acreditarem, erroneamente, que o robô trabalha sozinho, sem o auxílio de profissionais da saúde. “O robô dá precisão para chegarmos ao lugar certo, da forma certa, pelo caminho correto”, garante Kuhn.
Os profissionais envolvidos nas inovações, tanto do HCPF quanto do HSVP, concordam: quando usados corretamente, os robôs trazem benefícios a médicos e pacientes. Isto porque, além de ajudarem os cirurgiões no sentido da precisão, eles tornam os procedimentos menos invasivos e, consequentemente, proporcionam uma recuperação mais rápida.
Adequação às normas
Para dar conta dessa nova demanda de cirurgias no município, ambos os hospitais criaram, atendendo às normas do CFM para cirurgia robótica, comitês específicos. Os grupos têm o objetivo de elaborar códigos com diretrizes éticas sobre o uso dos equipamentos e capacitar profissionais de diversas frentes, da enfermagem à administração e à engenharia.
“Normalmente, se cria um comitê com todas essas áreas de modo a poder implementar um serviço, treinar todo mundo, dar capacitação para usar esse tipo de equipamento e, assim, obter os melhores resultados”, explica Milton Bergamo, presidente da Comissão de Cirurgia Robótica do HSVP.
O HCPF ainda desenvolveu um Centro Regional de Cirurgia Robótica, que permite que médicos de outras cidades do interior também se capacitem e façam uso da tecnologia disponível na instituição.
“Com a criação desse serviço, no modelo de Centro Regional, o HCPF entende que facilita e democratiza o acesso por médicos e pacientes à tecnologia cirúrgica mais avançada do mundo, ao mesmo tempo em que contribui para a formação de recursos humanos relacionados a essa tecnologia”, argumenta Juarez Dal Vesco, diretor técnico no Hospital de Clínicas de Passo Fundo.
Próximos passos
Tanto o HSVP quanto o HCPF já ensaiam outros passos na área da cirurgia robótica: o HSVP recebe, nesta semana, um novo robô, o Versius – que deve começar a operar em abril. Já o HCPF estuda ampliar o uso da avançada tecnologia Da Vinci X a outras especialidades cirúrgicas para além da urologia, além de promover, em parceria com a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre e o Instituto Falke, um curso sobre cirurgia robótica. No momento, 14 médicos de diferentes especialidades estão sendo capacitados no hospital neste sentido.
O sucesso de Passo Fundo na área de cirurgia robótica se deve, principalmente, à educação. É o que afirma Ilário De David, superintendente do HSVP: “Funcionam, aqui em Passo Fundo, três cursos de Medicina. A cidade forma mais de 200 médicos por ano”, lembra. “As entidades hospitalares, por conta dos avanços no ensino e na pesquisa, se sentem compelidas a acompanhar a tecnologia”, conclui.