
A conselheira do Cremers e coordenadora da Câmara Técnica de Psiquiatria do Conselho, Silzá Tramontina, participou de nova reunião da Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam) da Câmara Municipal de Porto Alegre, realizada na terça-feira (18), para discutir a saúde mental de médicos e profissionais de saúde. Com o tema “Por trás do Jaleco: o adoecimento silencioso dos que salvam vidas”, o encontro foi proposto pelo vereador Hamilton Sossmeier para promover reflexões sobre a sobrecarga de trabalho e os desafios emocionais enfrentados pelos profissionais, especialmente diante das recentes crises vivenciadas no Rio Grande do Sul.
Além de dar visibilidade para o tema, a reunião buscou identificar o que contribui para o aumento do esgotamento profissional (burnout) e outras situações, como a subnotificação de casos e afastamentos, e dar encaminhamentos para novas políticas públicas que sirvam de suporte para aqueles que buscam ajuda.
“O médico tem dificuldade de se tornar paciente. Precisamos reconhecer aqueles que se dedicam a salvar vidas, mas que também sofrem e sentem”, afirmou a presidente da Cosmam, vereadora Tanise Sabino, abrindo a mesa de discussão. “A nossa rede de saúde carregou e ainda carrega cicatrizes profundas desses períodos (pandemia e enchentes). O resultado está aí, no aumento dos diagnósticos, nos afastamentos e no adoecimento. Não estamos falando apenas de profissionais, mas de cidadãos, de famílias; eles, que dão sua vida para o nosso cuidado”, complementou Sossmeier.
Tramontina apresentou dados, em consonância com números apontados pela Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), pelo Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest), serviço oferecido pelo SUS. O recorte de 2020 da psiquiatra apontou que 46% dos médicos têm ou já tiveram diagnósticos de depressão; 47% já tiveram ou têm ansiedade; e 62% têm algum sintoma ou já tiveram diagnósticos de burnout.
“A que se atribui isso? São vários fatores. Atribui-se ao excesso de horas de trabalho, ao salário insuficiente e à falta de realização profissional. Médicos dormem pouco, não têm rotina de lazer, praticam pouca atividade física e têm uma alimentação precária, fatores que causam o adoecimento”, explicou. A conselheira lamentou que em torno de 63% dos médicos dizem não ter tempo pra procurar ajuda, enquanto 52% dizem não ter motivação para isso e outros 20% referem ter medo do impacto profissional que admitir esses problemas pode causar na carreira.
“O médico sai da UPA porque ali ele tem sempre a sensação de que se está enxugando gelo. Ele vai se desencantando e as agressões, que agora estão ocorrendo nos postos, UBSs e UPAs, colaboram para isso. Parece que tudo é culpa da enfermeira responsável e do médico – pela saúde não ser como deveria, quando, na verdade, é uma questão de gestão. O Brasil é um país doente e os médicos acompanham isso”, reiterou, ao também criticar a terceirização na área da saúde.
O Cremers participa de reuniões da Cosmam para colaborar na proposição de novas diretrizes e orientações a médicos, profissionais da saúde e população sobre temas diversos. Recentemente, o Conselho esteve presente nos encontros que trataram sobre a Política Antimanicomial do Poder Judiciário (Resolução CNJ 487) e o fechamento das emergências psiquiátricas em Porto Alegre.
Texto: Letícia Bonato
Edição: Sílvia Lago




