
O uso da cannabis (maconha) medicinal e recreativo tem sido tema de importantes discussões ao redor do mundo e também no Brasil. Diante desse cenário, a conselheira do Cremers e coordenadora da Câmara Técnica de Psiquiatria, Silzá Tramontina, emitiu o parecer “Análise dos riscos à saúde associados ao uso de cannabis: considerações éticas e médicas”, que analisa questões legais, econômicas e de saúde relacionadas ao consumo do entorpecente.
De acordo com dados do Relatório Mundial sobre Drogas 2024, da Organização das Nações Unidas (ONU), houve um aumento no consumo de maconha na última década, especialmente entre jovens, acompanhado de uma redução na percepção de risco. Especialistas consideram esse panorama preocupante, já que a maturação cerebral só se conclui por volta dos 25 anos. Dessa forma, muitos adolescentes ficam expostos aos efeitos de uma substância psicoativa antes do pleno desenvolvimento neurológico.
Segundo Tramontina, o parecer foi motivado pela preocupação de que a liberação da maconha pode ser extremamente perigosa, pois reforça o uso e a percepção de que o consumo não causa danos à saúde. A conselheira também chama atenção para um equívoco comum entre a população: “Não há evidência de que a maconha possa ter propriedades medicinais. Isso gera confusão entre o uso da maconha e o uso do canabidiol, que se mostra eficaz para algumas poucas patologias”, ressalta.
O parecer também destaca que o consumo de cannabis pode levar à dependência, o que acarreta custos adicionais aos sistemas de saúde. Além disso, seu uso, seja por ingestão, inalação, vaporização ou fumaça, não oferece benefícios à saúde, segundo os estudos analisados. Artigos científicos utilizados na elaboração do parecer apontam, ainda, um aumento significativo na procura por atendimentos em serviços de emergência e internações hospitalares relacionadas ao uso da substância.
O documento também cita que o uso de maconha está associado a um aumento de 36% no risco de acidentes automobilísticos. A dependência, por sua vez, está relacionada ao aumento do risco de depressão, tentativas de suicídio, transtorno bipolar, transtornos de ansiedade e dependência de outras drogas. No caso de adolescentes, o parecer aponta um risco 71 vezes maior de desenvolver sintomas psicóticos — como alucinações auditivas, visões ou paranoia excessiva — em comparação com não usuários, além de maior probabilidade de desenvolver esquizofrenia.
Diante desse conjunto de evidências, o Cremers se posiciona contrário à descriminalização do porte de maconha. A medida, segundo o parecer, pode contribuir para uma percepção ainda menor de risco — especialmente entre os jovens — e, consequentemente, para o aumento do consumo e de seus impactos negativos à saúde pública.
Texto: Clarice Passos
Edição: Sílvia Lago